Aurora Borealis

Thursday, June 12, 2008

TRINTA ANOS ESTA NOITE

Em homenagem a esta linha da sombra que atravessarei, passo a partir de hoje a escrever somente no blog da revista Dicta&Contradicta, com o mesmo atraso e a mesma lentidão de sempre.

Monday, June 09, 2008

LO AND BEHOLD!


Há cerca de dez anos, perguntava-me, entre os corredores da fétida faculdade de jornalismo que fiz, se algum dia eu viria uma revista com bons textos, boas pautas e um acabamento gráfico que não a fizesse parecida com um desfile de escola de samba.

Pois bem: meus sonhos se concretizaram. A revista existe e será lançada no dia 10 de junho, por coincidência o Dia de Camões e da Língua Portuguesa. Chama-se Dicta&Contradicta e eu sou um dos responsáveis por ela, junto com os meus amigos do Instituto de Formação e Educação (IFE).

É também uma revista que me provoca as mais profundas emoções. Um ano depois da morte de Bruno Tolentino, temos a oportunidade de ler aquela que foi sua última aula, seu derradeiro testamento. Mas há também os vivos: Mendo Castro Henriques sobre Bernard Lonergan, Roger Kimball sobre Friedrich Hayek e Luiz Felipe Pondé nos mostrando as relações escusas que existem entre o Eclesiastes, Saul Bellow e Nelson Rodrigues.

E, sim, queremos que ela dê dinheiro. Por isso, compre a revista aqui e vá ao lançamento que ocorrerá nesta terça-feira, dia 10, às 19 hs, na Livraria Cultura da Av. Paulista.

Tuesday, April 01, 2008

SETE REGRAS PARA DESAPARECER NO MUNDO

"Seven simple rules of going into hiding: one, never trust a cop in a raincoat. Two, beware of enthusiasm and of love, both are temporary and quick to sway. Three, if asked if you care about the world's problems, look deep into the eyes of he who asks, he will never ask you again. Four, never give your real name. Five, if ever asked to look at yourself, dont. Six, never do anything the person standing in front of you cannot understand. And finally seven, never create anything, it will be misinterpreted, it will chain you and follow you for the rest of your life".

Arthur Rimbaud, uma das personas de Bob Dylan em "I´m Not There", o belissímo filme de Todd Haynes.

Wednesday, March 19, 2008

MAIS UM FOCO DE RESISTÊNCIA

Pois é, minha gente, as coisas estão acontecendo. Vejam o site do IFE - Instituto de Formação e Educação - e percebam como estamos conseguindo inserir um novo modo de pensamento. Quem não gostou, como diria o Machado, que tome um piparote na testa.

Wednesday, February 13, 2008

O HOMEM INTERNACIONAL DO MISTÉRIO VOLTA DAS TREVAS

Entrevista exclusiva dada para o site http://www.aristoi.com.br

1. Para começar, gostaria que nos falasse sobre sua formação e sobre sua carreira. Muitos o conhecem dos textos que publicou n'O Indivíduo, mas, fora isso, sabemos muito pouco sobre você. Enfim, conte-nos um pouco do que tem feito e dos seus planos.

Bem, não há nada demais na minha formação e na minha carreira. Sou formado em Jornalismo pela PUC-Campinas, fiz também as faculdades de Letras (Unicamp) e de Direito (PUC-Campinas) e atualmente faço mestrado em Ciências da Religião na PUC-SP, sob a orientação de Luiz Felipe Pondé. Abandonei a profissão de jornalista simplesmente porque não agüentava as idiotices que acontecem nas redações; a partir daí, fui trabalhar em outras áreas – como, por exemplo, revisor de textos e vendedor na Livraria Cultura Villa-Lobos – e depois de algum tempo me chamaram para organizar o Departamento de Humanidades do IICS. Agora, sobre o fato das pessoas saberem pouco sobre mim, isso é uma mentira; não sei se isso tem algum interesse, mas é só lerem os meus ensaios em O Indivíduo, no Digestivo Cultural e no meu blog Aurora Borealis, além de, obviamente, verem toda a programação de Humanidades do IICS – e perceberão que estou todo ali, full frontal.

2. Embora certamente haja um núcleo de princípios comuns entre as diferentes definições de educação clássica, há também uma dificuldade em defini-la claramente. Por isso, gostaria de lhe perguntar qual é a sua definição de educação clássica? Enfim, qual a concepção que fundamenta seu trabalho no IICS?

Não tenho uma definição de Educação Clássica porque este tipo de educação não deve ser definido como um sistema cheio de princípios lógicos; a Educação Clássica é a educação que qualquer um deveria ter para ser considerado minimamente articulado. O problema é que o Brasil se importa mais com uma educação fundada em bases ideológicas – seja de direita ou de esquerda – e hoje as pessoas lêem o Rubem Alves e a Marilena Chauí, mas não lêem Plutarco, Aristóteles ou Homero. A nossa concepção do IICS é recuperar, de forma bem quixotesca (no bom sentido, isto é, recuperar um norte que foi perdido, mas que está prestes a ser redescoberto), algum brasileiro decente que queira se (re)integrar à tradição do Ocidente, sem se preocupar com o FEBEAPÁ que as ideologias fizeram no país.

3. Podemos ver, pelos seus textos, que você sempre teve uma grande preocupação com a sua formação pessoal e com as questões da alta cultura. Como a educação clássica influenciou sua própria formação? Como estas idéias chegaram a você e como elas lhe afetaram?

A grande preocupação com a minha formação pessoal nos textos que escrevi vem do fato de que não passo de um grande pedante. Com o tempo, vi que ser um grande pedante não levava a nada; percebi que tinha entrar no redemoinho das coisas, de amadurecer nas ambigüidades da vida. A educação que recebi foi igual a de qualquer garoto de classe média – só não virei comunista e um idiota latino-americano por um milagre. O que aconteceu é que passei por certas experiências que, se não fosse pela conversão que enfrentei, nenhuma educação teria me ajudado a compreendê-las. A educação clássica que você fala, Lucas, é simplesmente a educação do homem ocidental que, confrontado com a perspectiva da morte e a inevitabilidade do Mal, o ajuda a enfrentar essas questões – as questões mais sérias da nossa existência – e tenta encontrar não uma solução, mas uma forma de aceitá-las sem falsos otimismos e sem tragédias anunciadas.

4. Devido ao péssimo estado do nosso sistema educacional, muitos dos nossos leitores se vêem pressionados a recorrer ao autodidatismo. Você se considera um autodidata? O quanto da sua formação se deve ao auxílio de professores e ao esforço isolado?

Qualquer um que se orgulhe em ser um autodidata é um completo otário. O autodidata é o ser mais solitário do planeta. Não encontra eco, não encontra confronto. O Bruno Tolentino me dizia sempre para fazer um mestrado porque, apesar do nível baixo das universidades, elas sempre são um local de encontro de idéias e de debates. Confrontar os seus inimigos intelectuais é essencial para a formação de qualquer um que queria enfrentar a vida como um adulto. A minha formação vem de muita coisa que li sozinho, mas também das várias pessoas que me influenciaram: meus pais, os meus amigos do IFE (Instituto de Formação e Educação, entidade que criei com alguns amigos e onde discutimos Platão minuciosamente há quase quatro anos), os colegas do mestrado, os verdadeiros mestres com quem tive a benção de conviver, como Bruno Tolentino, Luiz Felipe Pondé, João Pereira Coutinho, Olavo de Carvalho; e também os mestres que já se foram há algum tempo, como Eric Voegelin (este sim, a minha verdadeira influência, junto com Tolentino), Mário Ferreira dos Santos, Chesterton e muitos outros.

5. Diga-nos quais foram os principais livros, cursos ou experiências que mais fortemente definiram o seu percurso intelectual – e o que disto você nos recomenda.

Os livros que te marcam mais são sempre relacionados com algumas experiências cruciais pelas quais todo o ser humano deve ter passado. Falo, claro, da experiência da morte e do sofrimento, mas também da bondade e da caridade e o fato de que viver em um mundo que tem as duas coisas simultaneamente é talvez a coisa mais perturbadora que alguém pode sentir.

Por isso, alguns livros são fundamentais para se entender essas experiências; para mim foram os seguintes: Ulysses, de James Joyce; Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust; a Poesia de T.S. Eliot, W.H. Auden e W.B. Yeats (leia tudo o que puder desses três grandes gênios); Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, de Machado de Assis; Grande Sertão:Veredas, de Guimarães Rosa; Avalovara, de Osman Lins; toda a obra de Bruno Tolentino (sem dúvida, o maior poeta que o Brasil já teve); as obras de Drummond, Bandeira e Cecília Meirelles; os ensaios de Edmund Wilson, G.K. Chesterton e C.S. Lewis; e as grandes obras filosóficas de Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e Eric Voegelin.

Também não deixaria de lado a música e o cinema, artes essenciais para que alguém tenha uma sensibilidade saudável. Escute os clássicos (Mahler, Bach, Mozart, Sibelius), escute o bom e velho rock-n´-roll (todo mundo sabe da minha fixação por Bob Dylan) e veja filmes, muitos filmes, em especial os de Stanley Kubrick, Howard Hawks, Joseph Mankiewicz, F.W. Murnau, Scorsese e tantos outros.

6. Finamente, gostaria de entrar em uma questão cara aos leitores do Aristoi: seu trabalho junto ao IICS. Gostaria que você nos contasse um pouco da história deste empreendimento: como ele surgiu, como você se envolveu no projeto e, evidentemente, quais objetivos vocês pretendem alcançar.

A diretoria do IICS me chamou porque precisava de um sujeito jovem, com uma linha sólida de pensamento cristão e que fosse suficientemente maluco para aceitar uma empreitada dessas. Eu preenchia todos os requisitos. Os objetivos que pretendemos alcançar é ser um centro de pensamento e de formação de scholars. Em outras palavras: um think tank. Conseguiremos? Não sei; o que sei é que a diretoria do IICS me deu todo o apoio necessário.

7. Os "módulos de educação clássica" são, definitivamente, uma dos grandes projetos do IICS. Como foi o processo de desenvolvimento destes módulos (a seleção das leituras, dos temas, a determinação do tempo para cada etapa)?

Foi simples. Inspirei-me nos modelos curriculares do St. John College e do St. Thomas Aquinas e depois discuti bastante com os professores de cada aula, relacionando temas e cruzando referências. Quando se trabalha com pessoas inteligentes e com o mesmo horizonte de pensamento a coisa caminha sozinha.

8. Como será o funcionamento prático dos módulos? Fale-nos um pouco do que vocês esperam realizar enquanto prática pedagógica.

O funcionamento prático dos módulos é a discussão de alguns temas dos livros apresentados e, a partir daí, orientar cada um dos alunos a seguir um caminho próprio, dentro do seu ritmo e do seu interesse. A única coisa que espero é que não venha ninguém com ideologias ou papo falsificado de boteco. Os módulos são para pessoas que gostam de investir na sua formação como algo para a vida e não para conquistar menininhas ou ser bem sucedido no mercado de trabalho.

9. Recentemente, em seu blog, você publicou uma verdadeira declaração de guerra contra o "totalitarismo cultural da esquerda". Como você entende esta guerra cultural? Como você avalia as nossas chances? E – principalmente – quais estratégias lhe parecem mais efetivas?

Bem, estamos em uma guerra, não estamos? Entendo que essa guerra cultural é a mais importante que já passamos. O Brasil não existe mais no mapa da Civilização porque decidiu ir para uma Segunda Realidade onde Foucault é meu rei e o Lula-lá é o exemplo de estadista. É a função desta geração que sabe das coisas recuperar o país do lodo em que se encontra; afinal, nós sabemos que a USP não presta mais e que o PT não é o partido dos santos e imaculados. Nós sabemos quem é quem. E a única estratégia que vejo ser efetiva é a nossa geração tomar vergonha na cara. Mesmo com o aumento de uma resistência na mídia e nos meios educacionais, ainda assim as pessoas que compõem essa suposta “resistência” não passam de sujeitos mimados, egocêntricos e que só pensam no seu “aperfeiçoamento espiritual” – leia-se: fugir do mundo. Afirmam ser cristãos quando Cristo disse que tínhamos que ensinar aos outros, que tínhamos uma missão para realizar neste mundo. É como eu disse: esta é a hora da resistência entrar em ação. Quem não quiser entrar nela não passa de um covarde.

10. Diga-nos o pensa da educação liberal no Brasil - o que podemos esperar do futuro e o que podemos fazer para torná-lo um pouco melhor.

Não existe educação liberal no Brasil. Precisa dizer mais alguma coisa?

11. Por fim, gostaríamos de lhe pedir algumas dicas de estudo e leitura para nossos leitores – e para nós mesmos, evidentemente.

a. Você teria alguma recomendação em relação à ordem prática dos estudos para nossos leituras (técnicas, métodos, etc.)?

A única ordem prática que dou para o estudo é a seguinte: o sujeito tem de estudar porque há um problema que o consome no seu íntimo, um problema que, se não começar a querer saber porque existe e porque incomoda a sua vida, vai deixá-lo louco. Não estude para ter boas notas; não estude para ser culto; não estude para fazer amigos e influenciar pessoas. Estude somente para solucionar a questão que, provavelmente, só vai ser resolvida quando estiver no leito de morte.

b. Que livros sobre educação e formação pessoal você indica?

Indico três: os contos de Sherlock Holmes (para pensar direito e saber onde se encontra o Mal), o Eclesiastes (para você saber que tudo nessa terra é passageiro) e o Autobiographical Reflections, do Eric Voegelin, uma verdadeira aula de como ser um homem do espírito sério.

c. E que livros – sobre qualquer assunto – você recomenda entusiasticamente a nossos leitores?

Recomendo que leiam A Nova Ciência da Política, de Eric Voegelin, para saber o que realmente se passa no mundo, o tratado do Voegelin, Order and History, além de O Mundo Como Idéia, de Bruno Tolentino, uma verdadeira aula de filosofia através da mais bela poesia, e qualquer romance do Joseph Conrad ou do Henry James, para saber como se faz literatura.

Vejam mais em: www.iics.org.br/humanidades

Wednesday, January 30, 2008

ESTA É A HORA DA RESISTÊNCIA ENTRAR EM AÇÃO

Como bem disse o Antônio Fernando Borges, está na hora de parar de lamentarmos sobre o totalitarismo cultural da esquerda e enfrentar o problema de frente. E tudo isso só pode ser feito se tivermos uma boa educação cultural - uma educação que se preocupa com as questões fundamentais do ser humano. Eis a intenção do Instituto Internacional de Ciências Sociais, um novo centro de pensamento que procura recuperar o que todos acreditamos o que estava perdido: a beleza de estar dentro de uma tradição que, afinal de contas, nos molda como seres racionais. Sim, sou um dos coordenadores; sim, convido o leitor a ver a nossa programação; mas, antes de tudo, convido-o a ver que está na hora de entrarmos de vez na guerra e parar com as lamúrias. A única vantagem de ser um pouco jovem e ter um pouco de juízo é que temos coragem suficiente de ver e enfrentar o inimigo. E também poder recusar a covardia antes que seja tarde demais.

Vejam lá: www.iics.org.br/humanidades

Monday, November 19, 2007

YOU CAN´T ALWAYS GET WHAT YOU WANT

Esta canção dos Rolling Stones, fantástico hino dos beautiful losers, pode ser o bordão da série "House". Ou melhor, "House, M.D.". Para quem não é versado em particularidades, as iniciais significam "medical doctor". E que doutor! Interpretado pelo genial Hugh Laurie com uma precisão sherlockiana (a citação não é aleatória pois House é o Sherlock Holmes de nossos tempos), o doutor Gregory House é talvez o médico mais doente que já existiu na televisão. E não, não estou falando da sua perna que dói, dos vicodins que toma como se fossem chicletes, do seu humor sarcástico que esconde uma solidão que ninguém pode curá-lo. Falo da sua doença espiritual. House é o cientista que sofre do mal que toda a ciência moderna sofre: a dissociação entre fé e razão. Isso não é papo de católico extremista. Se alguém com um pouco de cabeça ver as três temporadas seguidas perceberá que o tema que corrói House é a sua incapacidade de ver que o mundo pode não ser somente de pessoas que mentem, de doenças que jamais serão curados, de problemas que jamais serão resolvidos. Pouco a pouco, a série mostra que Gregory House é um homem que deve aceitar que, enfim, existem pessoas que o suportam e que mostram uma extrema lealdade e, sobretudo, carinho; que muitas vezes os outros seres humanos podem expressar uma verdade sobre suas vidas; e que não é necessário cair no expediente da ciência vale-tudo (o que inclui aí uma apologia explicíta do aborto para a cura de uma doença, como vemos em um dos episódios) para amputar a esperança que não tem como ser capturada pela razão humana.

Por outro lado - e aí está a grandeza da série - House quase beira a canalhice, mas nunca atravessa a tênue linha. No fundo, ele é um homem bom, um homem com uma missão, que fará de tudo para realizá-la. Esta missão é o próprio aperfeiçoamento da ciência. E, no restante, ele está quase sempre certo em relação ao comportamento de outros seres humanos: todos nós mentimos na maioria das vezes, nunca mostramos qualquer sensibilidade ao outro e nos esquecemos que existem outras forças que permeiam nosso pequeno mundo. Contudo, se House acerta em relação ao humano, erra quando a realidade impõe a sua transcendência nos detalhes do cotidiano. E quando isso acontece, ainda assim House mantém a integridade de seu ceticismo e de seu sarcasmo perante a vida. Há algo de admirável nisso, mas também de luciferino. Às vezes aceitar a vida como ela é implica em negar que não se pode ter tudo o que quer, mesmo quando esse "tudo" é a comprovação da perda. E, no caso do dr. Gregory House, a sua lucidez pode ser, sem sombra de dúvida, o reflexo de uma doença que contaminou boa parte dos nossos "homens com missão" e que a impedem de realizá-la com todos os seus frutos.