tag:blogger.com,1999:blog-75567142024-03-16T05:52:19.080-07:00Aurora Borealismvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.comBlogger23125tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-88284032082475146322008-06-12T02:56:00.000-07:002008-06-12T02:59:15.994-07:00<strong>TRINTA ANOS ESTA NOITE</strong><br /><strong></strong><br />Em homenagem a esta linha da sombra que atravessarei, passo a partir de hoje a escrever somente no blog da revista <a href="http://www.dicta.com.br/">Dicta&Contradicta</a>, com o mesmo atraso e a mesma lentidão de sempre.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-66783415957612779212008-06-09T04:34:00.000-07:002010-09-09T12:43:41.906-07:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVAw8vGWgERe_u9_BDC0ifv8GyJ7LMYG47keYkWvN4TCbNYugL6fYZ5KIQYz4bFfP6ZuBaYO_A3MKVtVgyi1skHDSdIp_e3gAlKTZFygo6cZfMDnLJKdXUbCxKnYHpyGmXxI8qfQ/s1600-h/capa_dicta_14-05(capa).jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; FLOAT: left; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5209844299190310866" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVAw8vGWgERe_u9_BDC0ifv8GyJ7LMYG47keYkWvN4TCbNYugL6fYZ5KIQYz4bFfP6ZuBaYO_A3MKVtVgyi1skHDSdIp_e3gAlKTZFygo6cZfMDnLJKdXUbCxKnYHpyGmXxI8qfQ/s320/capa_dicta_14-05(capa).jpg" /></a> <strong>LO AND BEHOLD!</strong><br /><br /><br /><p>Há cerca de dez anos, perguntava-me, entre os corredores da fétida faculdade de jornalismo que fiz, se algum dia eu viria uma revista com bons textos, boas pautas e um acabamento gráfico que não a fizesse parecida com um desfile de escola de samba.</p><p>Pois bem: meus sonhos se concretizaram. A revista existe e será lançada no dia 10 de junho, por coincidência o Dia de Camões e da Língua Portuguesa. Chama-se <em>Dicta&Contradicta</em> e eu sou um dos responsáveis por ela, junto com os meus amigos do <a href="http://www.ife.org.br/">Instituto de Formação e Educação </a>(IFE).</p><p>É também uma revista que me provoca as mais profundas emoções. Um ano depois da morte de Bruno Tolentino, temos a oportunidade de ler aquela que foi sua última aula, seu derradeiro testamento. Mas há também os vivos: Mendo Castro Henriques sobre Bernard Lonergan, Roger Kimball sobre Friedrich Hayek e Luiz Felipe Pondé nos mostrando as relações escusas que existem entre o Eclesiastes, Saul Bellow e Nelson Rodrigues.</p><p>E, sim, queremos que ela dê dinheiro. Por isso, compre a revista <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=11019830&sid=23217616910418399605145274&k5=3B89C12B&uid=">aqui </a>e vá ao lançamento que ocorrerá nesta terça-feira, dia 10, às 19 hs, na Livraria Cultura da Av. Paulista.</p>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-83197647409498442532008-04-01T09:34:00.000-07:002008-04-01T09:36:40.539-07:00<strong>SETE REGRAS PARA DESAPARECER NO MUNDO</strong><br /><strong></strong><br /><em>"Seven simple rules of going into hiding: one, never trust a cop in a raincoat. Two, beware of enthusiasm and of love, both are temporary and quick to sway. Three, if asked if you care about the world's problems, look deep into the eyes of he who asks, he will never ask you again. Four, never give your real name. Five, if ever asked to look at yourself, dont. Six, never do anything the person standing in front of you cannot understand. And finally seven, never create anything, it will be misinterpreted, it will chain you and follow you for the rest of your life".</em><br /><br />Arthur Rimbaud, uma das personas de Bob Dylan em "I´m Not There", o belissímo filme de Todd Haynes.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-20114931539663155182008-03-19T12:43:00.000-07:002008-06-01T18:26:03.457-07:00<strong>MAIS UM FOCO DE RESISTÊNCIA</strong><br /><strong></strong><br />Pois é, minha gente, as coisas estão acontecendo. Vejam o site do IFE - <a href="http://www.ife.org.br/">Instituto de Formação e Educação</a> - e percebam como estamos conseguindo inserir um novo modo de pensamento. Quem não gostou, como diria o Machado, que tome um piparote na testa.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-51344473348559389872008-02-13T08:48:00.000-08:002008-02-13T15:48:53.954-08:00<strong>O HOMEM INTERNACIONAL DO MISTÉRIO VOLTA DAS TREVAS</strong><br /><strong></strong><br /><strong>Entrevista exclusiva dada para o site <a href="http://www.aristoi.com.br/">http://www.aristoi.com.br</a></strong><br /><strong></strong><br /><strong>1. Para começar, gostaria que nos falasse sobre sua formação e sobre sua carreira. Muitos o conhecem dos textos que publicou n'O Indivíduo, mas, fora isso, sabemos muito pouco sobre você. Enfim, conte-nos um pouco do que tem feito e dos seus planos.</strong><br /><br />Bem, não há nada demais na minha formação e na minha carreira. Sou formado em Jornalismo pela PUC-Campinas, fiz também as faculdades de Letras (Unicamp) e de Direito (PUC-Campinas) e atualmente faço mestrado em Ciências da Religião na PUC-SP, sob a orientação de Luiz Felipe Pondé. Abandonei a profissão de jornalista simplesmente porque não agüentava as idiotices que acontecem nas redações; a partir daí, fui trabalhar em outras áreas – como, por exemplo, revisor de textos e vendedor na Livraria Cultura Villa-Lobos – e depois de algum tempo me chamaram para organizar o Departamento de Humanidades do IICS. Agora, sobre o fato das pessoas saberem pouco sobre mim, isso é uma mentira; não sei se isso tem algum interesse, mas é só lerem <a href="http://www.oindividuo.com//convidado/martim0.htm">os meus ensaios em O Indivíduo</a>, no Digestivo Cultural e no meu blog <a href="http://composeindarkness.blogspot.com/">Aurora Borealis</a>, além de, obviamente, verem toda a programação de Humanidades do IICS – e perceberão que estou todo ali, <em>full frontal</em>.<br /><br /><strong>2. Embora certamente haja um núcleo de princípios comuns entre as diferentes definições de educação clássica, há também uma dificuldade em defini-la claramente. Por isso, gostaria de lhe perguntar qual é a sua definição de educação clássica? Enfim, qual a concepção que fundamenta seu trabalho no IICS?</strong><br /><br />Não tenho uma definição de Educação Clássica porque este tipo de educação não deve ser definido como um sistema cheio de princípios lógicos; a Educação Clássica é a educação que qualquer um deveria ter para ser considerado minimamente articulado. O problema é que o Brasil se importa mais com uma educação fundada em bases ideológicas – seja de direita ou de esquerda – e hoje as pessoas lêem o Rubem Alves e a Marilena Chauí, mas não lêem <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Plutarch&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Plutarco</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Aristotle&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Aristóteles</a> ou <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Homer&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Homero</a>. A nossa concepção do IICS é recuperar, de forma bem quixotesca (no bom sentido, isto é, recuperar um norte que foi perdido, mas que está prestes a ser redescoberto), algum brasileiro decente que queira se (re)integrar à tradição do Ocidente, sem se preocupar com o FEBEAPÁ que as ideologias fizeram no país.<br /><br /><strong>3. Podemos ver, pelos seus textos, que você sempre teve uma grande preocupação com a sua formação pessoal e com as questões da alta cultura. Como a educação clássica influenciou sua própria formação? Como estas idéias chegaram a você e como elas lhe afetaram?</strong><br /><br />A grande preocupação com a minha formação pessoal nos textos que escrevi vem do fato de que não passo de um grande pedante. Com o tempo, vi que ser um grande pedante não levava a nada; percebi que tinha entrar no redemoinho das coisas, de amadurecer nas ambigüidades da vida. A educação que recebi foi igual a de qualquer garoto de classe média – só não virei comunista e um idiota latino-americano por um milagre. O que aconteceu é que passei por certas experiências que, se não fosse pela conversão que enfrentei, nenhuma educação teria me ajudado a compreendê-las. A educação clássica que você fala, Lucas, é simplesmente a educação do homem ocidental que, confrontado com a perspectiva da morte e a inevitabilidade do Mal, o ajuda a enfrentar essas questões – as questões mais sérias da nossa existência – e tenta encontrar não uma solução, mas uma forma de aceitá-las sem falsos otimismos e sem tragédias anunciadas.<br /><br /><strong>4. Devido ao péssimo estado do nosso sistema educacional, muitos dos nossos leitores se vêem pressionados a recorrer ao autodidatismo. Você se considera um autodidata? O quanto da sua formação se deve ao auxílio de professores e ao esforço isolado?</strong><br /><br />Qualquer um que se orgulhe em ser um autodidata é um completo otário. O autodidata é o ser mais solitário do planeta. Não encontra eco, não encontra confronto. O <a href="http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=1592688&ST=SE&franq=255958">Bruno Tolentino</a> me dizia sempre para fazer um mestrado porque, apesar do nível baixo das universidades, elas sempre são um local de encontro de idéias e de debates. Confrontar os seus inimigos intelectuais é essencial para a formação de qualquer um que queria enfrentar a vida como um adulto. A minha formação vem de muita coisa que li sozinho, mas também das várias pessoas que me influenciaram: meus pais, os meus amigos do IFE (Instituto de Formação e Educação, entidade que criei com alguns amigos e onde discutimos Platão minuciosamente há quase quatro anos), os colegas do mestrado, os verdadeiros mestres com quem tive a benção de conviver, como Bruno Tolentino, Luiz Felipe Pondé, <a href="http://www.olavodecarvalho.org/">João Pereira Coutinho</a>, <a href="http://www.olavodecarvalho.org/">Olavo de Carvalho</a>; e também os mestres que já se foram há algum tempo, como <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Eric%20Voegelin&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Eric Voegelin</a> (este sim, a minha verdadeira influência, junto com Tolentino), <a href="http://www.marioferreira.com.br/">Mário Ferreira dos Santos</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Chesterton%20&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Chesterton </a>e muitos outros.<br /><br /><strong>5. Diga-nos quais foram os principais livros, cursos ou experiências que mais fortemente definiram o seu percurso intelectual – e o que disto você nos recomenda.</strong><br /><br />Os livros que te marcam mais são sempre relacionados com algumas experiências cruciais pelas quais todo o ser humano deve ter passado. Falo, claro, da experiência da morte e do sofrimento, mas também da bondade e da caridade e o fato de que viver em um mundo que tem as duas coisas simultaneamente é talvez a coisa mais perturbadora que alguém pode sentir.<br /><br />Por isso, alguns livros são fundamentais para se entender essas experiências; para mim foram os seguintes: <a href="http://www.amazon.com/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.com%2FUlysses-James-Joyce%2Fdp%2F0679722769%3Fie%3DUTF8%26s%3Dbooks%26qid%3D1202838365%26sr%3D8-2&tag=aristoi-20&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Ulysses</a>, de James Joyce; <a href="http://www.amazon.com/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.com%2FRecherche-Du-Temps-Perdu%2Fdp%2F2070754928%3Fie%3DUTF8%26s%3Dbooks%26qid%3D1202838457%26sr%3D1-3&tag=aristoi-20&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Em Busca do Tempo Perdido</a>, de Marcel Proust; a Poesia de T.S. Eliot, <a href="http://www.amazon.com/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.com%2FCollected-Poems-Modern-Library-Auden%2Fdp%2F0679643508%3Fie%3DUTF8%26s%3Dbooks%26qid%3D1202838528%26sr%3D1-2&tag=aristoi-20&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">W.H. Auden</a> e <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Yeats&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">W.B. Yeats</a> (leia tudo o que puder desses três grandes gênios); <a href="http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=179305&ST=SE&franq=255958">Memórias Póstumas de Brás Cubas</a> e <a href="http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=179275&ST=SE&franq=255958">Dom Casmurro</a>, de Machado de Assis; <a href="http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=1411712&ST=SE&franq=255958">Grande Sertão:Veredas</a>, de Guimarães Rosa; <a href="http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=295538&ST=SE&franq=255958">Avalovara</a>, de Osman Lins; toda a obra de <a href="http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=182143&ST=SE&franq=255958">Bruno Tolentino</a> (sem dúvida, o maior poeta que o Brasil já teve); as obras de Drummond, Bandeira e Cecília Meirelles; os ensaios de <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Edmund%20Wilson&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Edmund Wilson</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Chesterton%20&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">G.K. Chesterton </a>e <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=C.S.%20Lewis&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">C.S. Lewis</a>; e as grandes obras filosóficas de Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino e Eric Voegelin.<br /><br />Também não deixaria de lado a música e o cinema, artes essenciais para que alguém tenha uma sensibilidade saudável. Escute os clássicos (<a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Mahler&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Mahler</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Bach&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Bach</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Mozart&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Mozart</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Sibelius&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Sibelius</a>), escute o bom e velho rock-n´-roll (todo mundo sabe da minha fixação por <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Bob%20Dylan&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Bob Dylan</a>) e veja filmes, muitos filmes, em especial os de <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Stanley%20Kubrick&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Stanley Kubrick</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Howard%20Hawks&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Howard Hawks</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Joseph%20Mankiewicz&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Joseph Mankiewicz</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=F.W.%20Murnau&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">F.W. Murnau</a>, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Scorsese%20&tag=aristoi-20&index=dvd&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Scorsese </a>e tantos outros.<br /><br /><strong>6. Finamente, gostaria de entrar em uma questão cara aos leitores do Aristoi: seu trabalho junto ao IICS. Gostaria que você nos contasse um pouco da história deste empreendimento: como ele surgiu, como você se envolveu no projeto e, evidentemente, quais objetivos vocês pretendem alcançar.</strong><br /><br />A diretoria do IICS me chamou porque precisava de um sujeito jovem, com uma linha sólida de pensamento cristão e que fosse suficientemente maluco para aceitar uma empreitada dessas. Eu preenchia todos os requisitos. Os objetivos que pretendemos alcançar é ser um centro de pensamento e de formação de <em>scholars</em>. Em outras palavras: um think tank. Conseguiremos? Não sei; o que sei é que a diretoria do IICS me deu todo o apoio necessário.<br /><br /><strong>7. Os "módulos de educação clássica" são, definitivamente, uma dos grandes projetos do IICS. Como foi o processo de desenvolvimento destes módulos (a seleção das leituras, dos temas, a determinação do tempo para cada etapa)?</strong><br /><br />Foi simples. Inspirei-me nos modelos curriculares do <a href="http://www.stjohnscollege.edu/">St. John College</a> e do <a href="http://www.thomasaquinas.edu/">St. Thomas Aquinas</a> e depois discuti bastante com os professores de cada aula, relacionando temas e cruzando referências. Quando se trabalha com pessoas inteligentes e com o mesmo horizonte de pensamento a coisa caminha sozinha.<br /><br /><strong>8. Como será o funcionamento prático dos módulos? Fale-nos um pouco do que vocês esperam realizar enquanto prática pedagógica.</strong><br /><br />O funcionamento prático dos módulos é a discussão de alguns temas dos livros apresentados e, a partir daí, orientar cada um dos alunos a seguir um caminho próprio, dentro do seu ritmo e do seu interesse. A única coisa que espero é que não venha ninguém com ideologias ou papo falsificado de boteco. Os módulos são para pessoas que gostam de investir na sua formação como algo para a vida e não para conquistar menininhas ou ser bem sucedido no mercado de trabalho.<br /><br /><strong>9. Recentemente, em seu blog, você publicou uma verdadeira declaração de guerra contra o "totalitarismo cultural da esquerda". Como você entende esta guerra cultural? Como você avalia as nossas chances? E – principalmente – quais estratégias lhe parecem mais efetivas?</strong><br /><br />Bem, estamos em uma guerra, não estamos? Entendo que essa guerra cultural é a mais importante que já passamos. O Brasil não existe mais no mapa da Civilização porque decidiu ir para uma Segunda Realidade onde Foucault é meu rei e o Lula-lá é o exemplo de estadista. É a função desta geração que sabe das coisas recuperar o país do lodo em que se encontra; afinal, nós sabemos que a USP não presta mais e que o PT não é o partido dos santos e imaculados. Nós sabemos quem é quem. E a única estratégia que vejo ser efetiva é a nossa geração tomar vergonha na cara. Mesmo com o aumento de uma resistência na mídia e nos meios educacionais, ainda assim as pessoas que compõem essa suposta “resistência” não passam de sujeitos mimados, egocêntricos e que só pensam no seu “aperfeiçoamento espiritual” – leia-se: fugir do mundo. Afirmam ser cristãos quando Cristo disse que tínhamos que ensinar aos outros, que tínhamos uma missão para realizar neste mundo. É como eu disse: esta é a hora da resistência entrar em ação. Quem não quiser entrar nela não passa de um covarde.<br /><br /><strong>10. Diga-nos o pensa da educação liberal no Brasil - o que podemos esperar do futuro e o que podemos fazer para torná-lo um pouco melhor.</strong><br /><br />Não existe educação liberal no Brasil. Precisa dizer mais alguma coisa?<br /><br /><strong>11. Por fim, gostaríamos de lhe pedir algumas dicas de estudo e leitura para nossos leitores – e para nós mesmos, evidentemente.</strong><br /><br /><em>a. Você teria alguma recomendação em relação à ordem prática dos estudos para nossos leituras (técnicas, métodos, etc.)?</em><br /><br />A única ordem prática que dou para o estudo é a seguinte: o sujeito tem de estudar porque há um problema que o consome no seu íntimo, um problema que, se não começar a querer saber porque existe e porque incomoda a sua vida, vai deixá-lo louco. Não estude para ter boas notas; não estude para ser culto; não estude para fazer amigos e influenciar pessoas. Estude somente para solucionar a questão que, provavelmente, só vai ser resolvida quando estiver no leito de morte.<br /><br /><em>b. Que livros sobre educação e formação pessoal você indica?</em><br /><br />Indico três: os contos de <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Sherlock%20Holmes&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Sherlock Holmes</a> (para pensar direito e saber onde se encontra o Mal), o <a href="http://www.amazon.com/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.com%2FHoly-Bible-King-James-Version%2Fdp%2F1565631609%3Fie%3DUTF8%26s%3Dbooks%26qid%3D1202839203%26sr%3D1-1&tag=aristoi-20&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Eclesiastes </a>(para você saber que tudo nessa terra é passageiro) e o <a href="http://www.amazon.com/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.com%2FAutobiographical-Reflections-Collected-Works-Voegelin%2Fdp%2F0826215890%3Fie%3DUTF8%26s%3Dbooks%26qid%3D1202839141%26sr%3D1-1&tag=aristoi-20&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Autobiographical Reflections</a>, do Eric Voegelin, uma verdadeira aula de como ser um homem do espírito sério.<br /><br /><em>c. E que livros – sobre qualquer assunto – você recomenda entusiasticamente a nossos leitores?</em><br /><br />Recomendo que leiam <a href="http://www.amazon.com/gp/redirect.html?ie=UTF8&location=http%3A%2F%2Fwww.amazon.com%2FScience-Politics-Walgreen-Foundation-Lectures%2Fdp%2F0226861147%3Fie%3DUTF8%26s%3Dbooks%26qid%3D1202839254%26sr%3D1-3&tag=aristoi-20&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">A Nova Ciência da Política</a>, de Eric Voegelin, para saber o que realmente se passa no mundo, o tratado do Voegelin, <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Eric%20Voegelin%20Order%20History&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Order and History</a>, além de <a href="http://www.submarino.com.br/books_productdetails.asp?Query=ProductPage&ProdTypeId=1&ProdId=182143&ST=SE&franq=255958">O Mundo Como Idéia</a>, de Bruno Tolentino, uma verdadeira aula de filosofia através da mais bela poesia, e qualquer romance do <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Joseph%20Conrad&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Joseph Conrad</a> ou do <a href="http://www.amazon.com/gp/search?ie=UTF8&keywords=Henry%20James&tag=aristoi-20&index=books&linkCode=ur2&camp=1789&creative=9325">Henry James</a>, para saber como se faz literatura.<br /><br />Vejam mais em: <a href="http://www.iics.org.br/humanidades">www.iics.org.br/humanidades</a>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-12567290564553242692008-01-30T05:19:00.000-08:002008-01-30T07:56:08.983-08:00<strong>ESTA É A HORA DA RESISTÊNCIA ENTRAR EM AÇÃO</strong><br /><br />Como bem disse o <a href="http://www.blogger.com/www.antoniofernandoborges.com">Antônio Fernando Borges</a>, está na hora de parar de lamentarmos sobre o totalitarismo cultural da esquerda e enfrentar o problema de frente. E tudo isso só pode ser feito se tivermos uma boa educação cultural - uma educação que se preocupa com as questões fundamentais do ser humano. Eis a intenção do <a href="http://www.blogger.com/www.iics.org.br">Instituto Internacional de Ciências Sociais</a>, um novo centro de pensamento que procura recuperar o que todos acreditamos o que estava perdido: a beleza de estar dentro de uma tradição que, afinal de contas, nos molda como seres racionais. Sim, sou um dos coordenadores; sim, convido o leitor a ver a nossa <a href="http://www.ceu.org.br/novo/tipo_de_evento_view.php?id=1&departamento=5">programação</a>; mas, antes de tudo, convido-o a ver que está na hora de entrarmos de vez na guerra e parar com as lamúrias. A única vantagem de ser um pouco jovem e ter um pouco de juízo é que temos coragem suficiente de ver e enfrentar o inimigo. E também poder recusar a covardia antes que seja tarde demais.<br /><br />Vejam lá: <a href="http://www.iics.org.br/humanidades">www.iics.org.br/humanidades</a>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-42629965529379383682007-11-19T08:15:00.000-08:002007-11-19T08:38:35.874-08:00<strong>YOU CAN´T ALWAYS GET WHAT YOU WANT</strong><br /><strong></strong><br />Esta canção dos Rolling Stones, fantástico hino dos <em>beautiful losers,</em> pode ser o bordão<em> </em>da série "House". Ou melhor, "House, M.D.". Para quem não é versado em particularidades, as iniciais significam "medical doctor". E que doutor! Interpretado pelo genial Hugh Laurie com uma precisão sherlockiana (a citação não é aleatória pois House é o Sherlock Holmes de nossos tempos), o doutor Gregory House é talvez o médico mais doente que já existiu na televisão. E não, não estou falando da sua perna que dói, dos vicodins que toma como se fossem chicletes, do seu humor sarcástico que esconde uma solidão que ninguém pode curá-lo. Falo da sua doença espiritual. House é o cientista que sofre do mal que toda a ciência moderna sofre: a dissociação entre fé e razão. Isso não é papo de católico extremista. Se alguém com um pouco de cabeça ver as três temporadas seguidas perceberá que o tema que corrói House é a sua incapacidade de ver que o mundo pode não ser somente de pessoas que mentem, de doenças que jamais serão curados, de problemas que jamais serão resolvidos. Pouco a pouco, a série mostra que Gregory House é um homem que deve aceitar que, enfim, existem pessoas que o suportam e que mostram uma extrema lealdade e, sobretudo, carinho; que muitas vezes os outros seres humanos podem expressar uma verdade sobre suas vidas; e que não é necessário cair no expediente da ciência vale-tudo (o que inclui aí uma apologia explicíta do aborto para a cura de uma doença, como vemos em um dos episódios) para amputar a esperança que não tem como ser capturada pela razão humana.<br /><br />Por outro lado - e aí está a grandeza da série - House quase beira a canalhice, mas nunca atravessa a tênue linha. No fundo, ele é um homem bom, um homem com uma missão, que fará de tudo para realizá-la. Esta missão é o próprio aperfeiçoamento da ciência. E, no restante, ele está quase sempre certo em relação ao comportamento de outros seres humanos: todos nós mentimos na maioria das vezes, nunca mostramos qualquer sensibilidade ao outro e nos esquecemos que existem outras forças que permeiam nosso pequeno mundo. Contudo, se House acerta em relação ao humano, erra quando a realidade impõe a sua transcendência nos detalhes do cotidiano. E quando isso acontece, ainda assim House mantém a integridade de seu ceticismo e de seu sarcasmo perante a vida. Há algo de admirável nisso, mas também de luciferino. Às vezes aceitar a vida como ela é implica em negar que não se pode ter tudo o que quer, mesmo quando esse "tudo" é a comprovação da perda. E, no caso do dr. Gregory House, a sua lucidez pode ser, sem sombra de dúvida, o reflexo de uma doença que contaminou boa parte dos nossos "homens com missão" e que a impedem de realizá-la com todos os seus frutos.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-11847538661423525132007-10-31T09:13:00.000-07:002007-10-31T09:26:27.244-07:00<strong>NÃO ESTOU LÁ, NEM CÁ</strong><br /><strong></strong><br />Sentiram a minha falta? Bem, também pudera: organizar um instituto, montar uma revista, escrever uma tese - enfim , projetos há muito anunciados enfim realizados (assim espero). Enquanto isso, no patropi, alguns fatos que marcam o nosso mundo cultural:<br /><br />- A morte de Alberto da Cunha Melo. Depois de Bruno Tolentino, a poesia brasileira perde mais um dos grandes em menos de seis meses. Por favor, apague as luzes quem sair por último.<br /><br />- "Tropa de Elite": se não fosse por "I´m Not There" (ver o item a seguir) seria o filme do ano. Pela primeira vez, alguém resolveu fazer um filme que quer contar uma boa história e que problematiza a realidade. E tem a melhor fala do cinema nacional: "Não se preocupa que o Baiano também consciência social".<br /><br />- "I´m Not There": nunca gostei de Todd Haynes, mas confesso que, desta vez, ele provou para mim que é um excelente diretor. Tudo bem, deve ser o assunto do filme: Bob Dylan, o judeu fanho que todos sabem que gosto. Mas ocorre que o filme não é sobre Bob Dylan: é sobre como o artista é alguém triste e solitário, sempre inquieto e vivendo dessa inquietude auto-destrutiva como o único combústivel para a sua vida.<br /><br />- "Inland Empire": David Lynch no topo da forma. O que isso significa? Que labirintos demoram para ter saídas.<br /><br />- "Na Praia", de Ian McEwan: Ok, o rapaz é darwinista fanático. Mas lembram-se do conselho do D.H. Lawrence: <em>Trust the tale, not the writer</em>. E isso McEwan sabe fazer direitinho: contar a sua história, lentamente, com um estilo preciso até o caos se instaurar na vida de cada personagem e nada ter mais reparação sob nenhum aspecto.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-69371129580940946262007-06-27T08:53:00.000-07:002007-06-27T08:55:23.642-07:00<strong>São Paulo, 27 de junho de 2007<br /></strong><strong></strong><br /><strong>BRUNO TOLENTINO 12/11/1940 - 27/06/2007<br /></strong><br /><br />O poeta Bruno Tolentino, vencedor de dois prêmios Jabuti e eleito intelectual do ano de 2003 pela Academia Brasileira de Letras (Prêmio José Ermírio de Moraes), faleceu hoje aos 66 anos.<br /><br />A causa da morte foi falência múltipla de órgãos, segundo o atestado de óbito emitido pelo hospital Emílio Ribas, onde estava internado há um mês.<br /><br />Ele tinha 63 anos quando ganhou o seu segundo Jabuti, pelo livro O mundo como Idéia. O primeiro Jabuti tinha sido em 1995, aos 54 anos, pelo livro As horas de Katharina. Apesar de ser conhecido por sua poesia, Tolentino também foi jornalista, professor e polemista.<br /><br />Sua obra é uma meditação sobre como o ser humano tende a abolir a realidade criando um sistema de conceitos através do qual pretende resolver o drama da existência. Com a exploração de todas as formas poéticas conhecidas, construiu uma poesia que aponta para o metafísico, somando à beleza formal uma profundidade filosófica poucas vezes vista na literatura brasileira.<br /><br />Seus livros mais populares são As horas de Katharina e A Balada do Cárcere, pelo qual ganhou, em 1996, o prêmio Cruz e Souza de melhor livro de poesia, e, em 1997, o Abgar Renault. O primeiro conta a biografia de uma freira que, através de uma série de experiências religiosas, se encaminha para uma vida de santidade; já o segundo livro relata a trajetória de um presidiário inglês, que vai da culpa por um crime passional à aceitação de sua finitude, levado pelos encantos da linguagem.<br /><br />A Balada do Cárcere (1996) foi inspirado na experiência do próprio Tolentino, preso na Inglaterra por tráfico de drogas em 1987, e encarcerado na prisão de Dartmoor, conhecida entre os ingleses como “Ilha do Diabo”. Ele foi libertado 22 meses depois e obteve perdão do governo inglês por ter sido injustamente acusado.<br /><br />Sua carreira no exterior começou após deixar o Brasil em 1964 para encontrar-se com Giuseppe Ungaretti em Roma. A partir daí, foi tradutor e intérprete junto à Comunidade Econômica Européia e professor nas universidades de Bristol e Essex. Em 1973, assumiu a direção da Oxford Poetry Now, sucedendo o poeta W. H. Auden. Na Europa, publicou os livros Le Vrai Le Vain (Paris, 1971) e Au Colloque des Monstres (Paris, 1973), em francês, e About the Hunt (Oxford, 1978), na língua inglesa.<br />Tolentino retornou ao País em 1993. Suas críticas à atual situação cultural do país foram sintetizadas numa famosa entrevista, publicada nas Páginas Amarelas da revista Veja, em 20 de março de 1996: “O Brasil que eu conheci, e do qual me recordo vivamente, era um país de grande vivacidade intelectual, mesmo sendo uma província. Não estou sendo duro com o Brasil. Quero saber quem seqüestrou a inteligência brasileira. Quero meu país de volta”.<br /><br />Durante esse período, continuou a publicar livros exemplares como Os Deuses de Hoje (1995), Os Sapos de Ontem (1995) e a reedição de seu primeiro livro, Anulação e Outros Reparos (1998), lançado pela primeira vez em 1963 e pelo qual ganhou, três anos antes, o prêmio Revelação de Autor.<br /><br />Nos seus últimos cinco anos de vida, publicou os dois pilares de sua obra poética, O mundo como Idéia (2002) e A imitação do amanhecer (2006). O primeiro foi “o livro-arena”, desenvolvido durante quarenta anos, em que Tolentino foi de encontro às suas dúvidas mais íntimas e irredutíveis, e com elas lutou por uma filosofia da forma que lhe permitiu exercer sem má consciência o grave e difícil ofício da poesia; já A imitação do amanhecer é o livro que dramatiza, numa história contada em 538 sonetos alexandrinos, todas as obsessões que permearam sua vida como poeta. Por este livro foi indicado, em primeiro lugar entre os finalistas, ao 49° Prêmio Jabuti, de 2007.<br /><br />Nascido em 12 de novembro de 1940, Bruno Lúcio de Carvalho Tolentino Sobrinho vinha de uma família tradicional do Rio de Janeiro. Sobrinho de Lúcia Miguel Pereira, biógrafa de Machado de Assis, ele conviveu desde de criança com os maiores nomes da intelectualidade brasileira das décadas de 1940 e 1950. Seus primeiros mestres foram Cecília Meirelles e Manuel Bandeira, este último fundamental para a sua formação como poeta. Também teve contato próximo com José Guilherme Merquior, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto.<br />Aclamado por grandes poetas como Saint-John Perse (Prêmio Nobel de Literatura, 1960) e Yves Bonnefoy, Tolentino obteve o respeito da crítica internacional com os elogios de Jean Starobinki e Charles Tomlinson. “Um poeta de raro talento”, escreveu Starobinski em um artigo para a Nouvelle Revue Française em 1979, “uma das mentes mais bem equipadas para abordar o problema da poesia em nosso tempo” – e, como complementaria Bonnefoy, “sem dúvida um ‘daqueles poucos’ que fazem a cultura de uma época” (Ephémére no.5).<br />Saint-John Perse diria que seus poemas “exalam uma dor tão justa que só sua perfeição formal a torna suportável”; e, como escreveu Charles Tomlinson no Times Literary Supplement em 1990, ler seus livros é “um exemplo de equilíbrio e claridade numa época marcada pelo extremismo moral”.<br /><br />Desde sua volta ao Brasil, a maioria da inteligência nacional reconheceu que sua obra era de rara importância e encerrava “uma noite que durava trinta anos”, segundo as palavras de Arnaldo Jabor. Antonio Houaiss também declarou: “Sua majestosa química verbal (...), a tragédia lírica a que consegue juntar toques épicos e cômicos e patéticos (...), colocam-no como o intérprete deste tempo que não busca o compadrio dos espertos e artimanhosos”. E Miguel Reale não hesitou em afirmar que Tolentino é “um poeta clássico que ama e cultiva a forma como valor imagético concreto, nela unitariamente fundindo o sensível e o intelectivo, a palavra e o seu conteúdo significante”.<br /><br /><em>Martim Vasques da Cunha<br /><br />Guilherme Malzoni Rabello<br /><br />Detentores dos direitos autorais da obra de Bruno Tolentino</em>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-68889237444796189152007-06-14T04:26:00.000-07:002007-06-15T02:32:57.142-07:00<strong>LIFE ABHORS TRANSPARENCE</strong><br /><strong></strong><br /><strong><em>24 DE MAIO DE 1980<br /></em></strong><br />Enfrentei, na falta de feras, jaulas de aço,<br />escavei meu apelido, e o tempo que me faltava para cumprir,<br />em colunas e paredes nuas de concreto,<br />vivi à beira-mar, tirei azes da manga num oásis,<br />jantei com só-o-Diabo-sabe-quem, de casaca, comendo trufas.<br />Do alto de uma geleira, olhei meio mundo, a terra<br />quase inteira. Quase me afoguei duas vezes,<br />por três vezes deixei que facas esburacassem minha pança.<br />Abandonei o país em que nasci e que me viu crescer.<br />Os que me esqueceram dariam a população de uma cidade inteira.<br />Percorri as estepes que viram os Hunos berrando do alto de suas selas,<br />usei roupas que, hoje, por toda parte, estão voltando à moda,<br />plantei centeio, cobri de pixe o telheiro de estábulos e chiqueiros,<br />nesta vida só não bebi água seca.<br />Deixei que o terceiro olho das sentinelas se esgueirasse para dentro<br />de meus sonhos úmidos e sinistros. Comi o pão do exílio, mofado, encaroçado.<br />Concedi a meus pulmões todos os sons, exceto o urro;<br />preferi o gemido. Hoje, estou fazendo quarenta anos.<br />Que posso dizer da vida? Que é longa e detesta a transparência.<br />Ovos quebrados me entristecem; mas omeletes me enjoam.<br />E, no entanto, até que me enfiem argila pela goela abaixo,<br />tudo o que posso fazer sair dela é gratidão.<br /><br /><em>Joseph Brodsky (tradução de Lauro Machado Coelho)</em>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-60393565320627921052007-03-25T17:57:00.000-07:002007-03-25T18:00:30.137-07:00<strong>A DUPLA SOLIDÃO</strong><br /><br /><br />Quando Deus vê Adão no paraíso, observando apenas os animais ao seu redor, percebe que existe algo errado e concluí: “Não é bom que ele esteja só”. “Não é bom” significa, de alguma forma, que não é conveniente – que não se pode fazer muita coisa quando o homem descobre que é apenas um corpo rodeado por outros corpos com quem não tem nenhuma semelhança. Os filósofos existencialistas afirmam que o homem se descobre como homem quando percebe a sua “fundamental solidão” – uma expressão bem pomposa para uma situação desgraçada. Deus acredita no contrário – e Ele reforça isso com a mais simples das expressões: “Não é bom”. Para Deus, o homem só se descobre como homem quando se encontra com o seu oposto, com o Outro – com a mulher que nasce da sua costela depois de um torpor no corpo muito semelhante ao de um parto. A partir daí, eles – o primeiro homem e a primeira mulher, Adão e Eva – serão “uma só carne”. Deus cria então aquilo que será a maior das batalhas do ser humano, maior do que qualquer guerra mundial: o casamento.<br /><br />Atualmente, o casamento é visto como uma mera instituição ou como um meio para duas pessoas fazerem safadezas entre quatro paredes sem a bisbilhotice dos outros. Mas é óbvio que vai além disso. Chamar o casamento de “batalha” não é um exagero. É simplesmente dar o nome correto a uma das escolhas mais importantes na vida de uma pessoa – senão a <em>mais</em> importante. O poeta inglês W.H. Auden dizia o seguinte:<br /><br /><em>“Que ninguém diga Eu Amo sem estar<br />certo do quanto é necessário para alimentar<br />uma partícula arruinada, um fio de cabelo<br />que joga uma sombra no universo inteiro”.<br /></em><br />Esta partícula arruinada é o próprio mistério do casamento, feito de alegrias e de tristezas, épocas de saúde e de doença, feito sobretudo daquilo que somente os santos são capazes: o de perseverar na adversidade, lutando contra os obstáculos, sempre com a noção de que é uma partícula arruinada, uma partícula que <em>existe</em>, <em>resiste</em> e dá forma a tudo o que virá pela frente.<br /><br />Pois, como diria Von Balthazar, uma das inteligências mais penetrantes do século passado: “O que há de mais forte e que configura com mais radicalidade uma forma de vida senão o casamento, que verdadeiramente engloba e supera todos os desejos de evasão do indivíduo, esta relação indissolúvel que evita inexoravelmente as tendências desagregadoras da existência e obriga aos vacilantes a transcender-se a si mesmos, através da forma, no amor autêntico? Na promessa matrimonial, os esposos não confiam sua fidelidade a si mesmos, nas areias movediças de sua liberdade, senão à forma que, escolhida, os escolhe. Por ela, decidem-se em um ato de toda a sua pessoa, que se entrega não somente ao seu amado, à lei biológica da fecundidade e à da família, como também a uma forma com quem se identifica no mais íntimo de sua personalidade, de modo que partindo das suas raízes biológicas penetre todos os estratos do ser e o leva a alcançar as alturas da Graça e do Espírito Santo”.<br /><br />Sim, estas palavras são difíceis e fortes – mas desde quando o casamento é algo para os fracos de espírito? Auden também avisava: “<em>Estamos sempre no erro/ lidando como trapalhões/ nossas vidas estúpidas</em>”. Não se pode perder a noção de que o casamento é uma batalha – mas uma batalha divertidíssima. Haverá choro e ranger de dentes em alguns momentos, assim como haverá risos misturados com lágrimas – e, muitas vezes, são por essas lágrimas que surgem o mais sincero dos risos. Os esposos são dois atores que se preparam para entrar em uma comédia de erros – e ninguém sabe qual será o texto exato que indica a entrada e a saída. Apenas terão de confiar que o fim, seja lá qual for, não terminará com a seguinte observação: “<em>Não é bom</em>”. Porque, apesar da batalha, apesar dos obstáculos e da “dupla solidão” que eles devem empreender, chegará a hora que escutarão a mesma voz oculta que surge em seus ouvidos neste exato momento e que diz somente uma única palavra, a palavra que carregarão em seus corações até o fim de suas vidas: “<em>Alegrem-se</em>”. Ou, como diria um famoso quarteto de Liverpool, a única coisa que se deve saber nesses instantes em que toda uma vida se define é que “no fim, o amor que você toma é igual ao amor que você cria”.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1166522668647377012006-12-19T01:55:00.000-08:002006-12-19T02:04:28.903-08:00<strong>A LITTLE TUNE THAT NEVER STOPS</strong><br /><strong></strong><br /><strong>JANUARY 1, 1965</strong><br /><strong></strong><br /><strong><em>Joseph Brodsky</em></strong><br /><strong><em></em></strong><br />The kings will lose your old address.<br />No star will flare up to impress.<br />The ear may yield, under duress,<br />to blizzards´ nagging roar.<br />The shadows falling off your back,<br />you´d snuff the candle, hit the sack,<br />for calendars more nights can pack<br />than there are candles for.<br /><br />What is this? Sadness? Yes, perhaps.<br />A little tune that never stops.<br />One knows by heart its downs and ups.<br />May it be played on par<br />with things to come, with one´s eclipse,<br />as gratefulness of eyes and lips<br />for what occasionally keeps<br />them trained on something far.<br /><br />And staring up where no cloud drifts<br />because your sock´s devoid of gifts<br />you´ll understand this thrift: it fits<br />your age; it´s not a slight.<br />It is too late for some breakthrough,<br />for miracles, for Santa´s crew.<br />And suddenly you´ll realize that you<br />yourself are a gift outright.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1164238728543272532006-11-22T15:33:00.000-08:002006-11-22T15:38:48.736-08:00<strong>THERE´LL BE NO MERCY FOR YOU ONCE YOU´VE LOST</strong><br /><strong><em></em></strong><br /><strong><em>Ain't Talkin'</em></strong><br /><br /><em><strong>Bob Dylan</strong></em><br /><strong><em></em></strong><br />As I walked out tonight in the mystic garden<br />The wounded flowers were dangling from the vine<br />I was passing by yon cool crystal fountain<br />Someone hit me from behind<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />Through this weary world of woe<br />Heart burnin', still yearnin'<br />No one on earth would ever know<br /><br />They say prayer has the power to heal<br />So pray for me, mother<br />In the human heart an evil spirit can dwell<br />I am a-tryin' to love my neighbor and do good unto others<br />But oh, mother, things ain't going well<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />I'll burn that bridge before you can cross<br />Heart burnin', still yearnin'<br />There'll be no mercy for you once you've lost<br /><br />Now I'm all worn down by weeping<br />My eyes are filled with tears, my lips are dry<br />If I catch my opponents ever sleeping<br />I'll just slaughter 'em where they lie<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />Through the world mysterious and vague<br />Heart burnin', still yearnin'<br />Walkin' through the cities of the plague.<br /><br />Well, the whole world is filled with speculation<br />The whole wide world which people say is round<br />They will tear your mind away from contemplation<br />They will jump on your misfortune when you're down<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />Eatin' hog eyed grease in a hog eyed town.<br />Heart burnin', still yearnin'<br />Some day you'll be glad to have me around.<br /><br />They will crush you with wealth and power<br />Every waking moment you could crack<br />I'll make the most of one last extra hour<br />I'll revenge my father's death then I'll step back<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />Hand me down my walkin' cane.<br />Heart burnin', still yearnin'<br />Got to get you out of my miserable brain.<br /><br />All my loyal and my much-loved companions<br />They approve of me and share my code<br />I practice a faith that's been long abandoned<br />Ain't no altars on this long and lonesome road<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />My mule is sick, my horse is blind.<br />Heart burnin', still yearnin'<br />Thinkin' 'bout that gal I left behind.<br /><br />Well, it's bright in the heavens and the wheels are flyin'<br />Fame and honor never seem to fade<br />The fire gone out but the light is never dyin'<br />Who says I can't get heavenly aid?<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />Carryin' a dead man's shield<br />Heart burnin', still yearnin'<br />Walkin' with a toothache in my heel<br /><br />The sufferin' is unending<br />Every nook and cranny has its tears<br />I'm not playing, I'm not pretending<br />I'm not nursin' any superfluous fears<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />Walkin' ever since the other night.<br />Heart burnin', still yearnin'<br />Walkin' 'til I'm clean out of sight.<br /><br />As I walked out in the mystic garden<br />On a hot summer day, a hot summer lawn<br />Excuse me, ma'am, I beg your pardon<br />There's no one here, the gardener is gone<br /><br />Ain't talkin', just walkin'<br />Up the road, around the bend.<br />Heart burnin', still yearnin'<br />In the last outback at the world's end.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1153496806855139732006-07-21T08:30:00.000-07:002006-07-21T08:47:49.760-07:00<em>ANTHONY: Cousin, it would be a long work to per use every comfort that a man may well take in tribulation. For as many comforts, you know, may a man take thereof, as there be good commodities therein. And of those there are surely so many that it would be very long to rehearse and treat of them. But me seemeth we cannot lightly better perceive what profit and commodity, and thereby what comfort, they may take of it who have it, than if we well consider what harm the lack of it is, and thereby what discomfort the lack should be to them that never have it.</em><br /><br /><em>So is it now that all holy men agree, and all the scripture is full, and our own experience proveth before our eyes, that we are not come into this wretched world to dwell here. We have not, as St. Paul saith, our dwelling-city here, but we are seeking for the city that is to come. And St. Paul telleth us that we do seek for it, because he would put us in mind that we should seek for it, as good folk who fain would come thither. For surely whosoever setteth so little by it that he careth not to seek for it, it will I fear be long ere he come to it, and marvellous great grace if ever hecome thither. "Run," saith St. Paul, "so that you may get it." If it must then be gotten with running, when shall he come at it who lifteth not one step toward it?</em><br /><br /><em>Now, because this world is, as I tell you, not our eternal dwelling, but our little-while wandering, God would that we should use it as folk who were weary of it. And he would that we should in this vale of labour, toil, tears, and misery not look for rest and ease, game, pleasure, wealth, and felicity. For those who do so fare like a foolish fellow who, going towards his own house where he should be wealthy, would for a tapster's pleasure become a hostler by the way, and die in a stable, and never come home.</em><br /><br /><em>And would God that those that drown themselves in the desire of this world's wretched wealth, were not yet more fools than he! But alas, their folly as far surpasseth the foolishness of that silly fellow as there is difference between the height of heaven and the very depth of hell. For our Saviour saith, "Woe may you be that laugh now, for you shall wail and weep." And "There is a time of weeping," saith the scripture, "and there is a time of laughing."But, as you see, he setteth the weeping time before, for that is the time of this wretched world, and the laughing time shall come after in heaven. There is also a time of sowing and a time of reaping, too. Now must we in this world sow, that we may in the other world reap. And in this short sowing time of this weeping world, must we water our seed with the showers of our tears. And then shall we have in heaven a merry laughing harvest forever."They went forth and sowed their seeds weeping," saith the prophet.But what, saith he, shall follow thereof? "They shall come again more than laughing, with great joy and exultation, with their handfuls of corn in their hands." Lo, they that in their going home towards heaven sow their seeds with weeping, shall at the day of judgment come to their bodies again with everlasting plentifullaughing. And to prove that this life is no laughing time, but rather the time of weeping, we find that our Saviour himself wept twice or thrice, but never find we that he laughed so much as once.I will not swear that he never did, but at least he left us no example of it. But on the other hand, he left us example of weeping.</em><br /><br /><em>Of weeping have we matter enough, both for our own sins and for other folk's, too. For surely so should we do--be wail their wretched sins, and not be glad to detract them nor envy the meither. Alas, poor souls, what cause is there to envy them who are ever wealthy in this world, and ever out of tribulation? Of them Job saith, "They lead all their days in wealth, and in a moment of an hour descend into their graves and are painfully buried in hell." St. Paul saith unto the Hebrews that those whom God loveth he chastiseth, "And he scourgeth every son of his that he receiveth." St. Paul saith also, "By many tribulations must we go into the kingdom of God." And no marvel, for our Saviour Christ said of himself unto his two disciples that were going into the village of Emaus, "Know you not that Christ must suffer and so go into his kingdom?" And would we who are servants look for more privilege in our master's house than our master himself? Would we get into his kingdom with ease, when he himself got not into his own but by pain? His kingdom hath he ordained for his disciples, and he saith unto us all, "If any man will be my disciple, let him learn of me to do as I have done, take his cross of tribulation upon his back and follow me." He saith not here, lo, "Let him laugh and make merry." Now if heaven serve but for Christ's disciples, and if they be those who take their cross of tribulation, when shall these folk come there who never have tribulation? And if itbe true, as St. Paul saith, that God chastiseth all them that he loveth and scourgeth every child whom he receiveth, and that to heaven shall not come but such as he loveth and receiveth, when shall they come thither whom he never chastiseth, nor never doth vouchsafe to defile his hands upon them or give them so much as one lash? And if we cannot (as St. Paul saith we cannot) come to heaven but by many tribulations, how shall they come thither who never have none at all? Thus see we well, by the very scripture itself,how true the words are of old holy saints, who with one voice (in a manner) say all one thing--that is, that we shall not have continual wealth both in this world and in the other too. And therefore those who in this world without any tribulation enjoy their long continual course of never-interrupted prosperity have a great cause of fear and discomfort lest they be far fallen out of God's favour, and stand deep in his indignation and displeasure.For he never sendeth them tribulation, which he is ever wont to send them whom he loveth. But they that are in tribulation, I say,have on the other hand a great cause to take in their grief great inward comfort and spiritual consolation.</em><br /><p><em><strong>(St. Thomas More, A Dialogue of Comfort against Tribulation)</strong></p></em>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1152631186204029012006-07-11T07:59:00.000-07:002006-07-11T08:19:47.153-07:00<strong>IT IS MY GIFT AND IT IS MY CURSE</strong><br /><br /><br />"Não sei o que isso significa. Apenas sei que é muito assustador, e não tenho nenhuma dúvida de que a poesia do filme vai se tornar uma realidade específica, de que a verdade à qual ele se refere irá se materializar, far-se-á conhecida por si mesma, e - quer eu goste ou não - irá afetar a minha vida. Uma pessoa não pode permanecer passiva depois de ter se apoderado de verdades de tal ordem, pois elas chegam até nós sem que o desejamos, e subvertem todas as idéias anteriores em relação ao significado do mundo. Em um sentido muito real, a pessoa se divide, consciente de que é responsável por outros; é um instrumento, um meio, obrigado a viver e a agir para o bem do próximo.<br /><br />Assim, Alexander Puchkin considerava que todo poeta, todo verdadeiro artista - independentemente de querê-lo ou não - é um profeta. Puchkin encarava a capacidade de olhar através do tempo e predizer o futuro como um dom terrível, e o papel que lhe coube causou-lhe indizível tormento. Ele tinha uma posição supersticiosa em relação a sinais e augúrios. Basta que recordemos como, quando estava correndo de Pskov para Petersburgo no momento do Levante Decembrista, o poeta tomou o caminho de volta porque uma lebre havia cruzado seu caminho; aceitou a crença popular de que isso era um presságio. Em um dos seus poemas, escreveu sobre a tortura que sofreu por ser consciente do seu dom da presciência, e da responsabilidade de ter sido escolhido para poeta e profeta. Eu me esquecera das suas palavras, mas o poema voltou-me com nova significação, quase que como uma revelação. Sinto que a pena que escreveu esses versos, em 1826, não era empunhada somente por Alexander Puchkin:<br /><br /><em>Cansado da fome espiritual</em><br /><em>Em meio a um deserto triste meu caminho fiz,</em><br /><em>E um anjo de seis asas veio a mim</em><br /><em>Num lugar onde havia uma encruzilhada.</em><br /><em>Com dedos leves como o sono</em><br /><em>Tocou as pupilas de meus olhos</em><br /><em>E minhas proféticas pupilas abriu</em><br /><em>Como olhos de águia assustada.</em><br /><em>Quando seus dedos tocaram meus ouvidos,</em><br /><em>Estes se encheram de rugidos e clangores</em><br /><em>E ouvi o tremor do céu</em><br /><em>E o vôo do anjo da montanha</em><br /><em>E animais marinhos nas profundezas</em><br /><em>E crescer a videira do vale.</em><br /><em>E, então, pressionou-me a boca</em><br /><em>E arrancou-me a língua pecadora,</em><br /><em>E toda a sua malícia e palavras vãs,</em><br /><em>E tomando a língua de uma sábia serpente</em><br /><em>Introduziu-a em minha boca gelada</em><br /><em>Com sua mão direita encarnada.</em><br /><em>Então, com sua espada, abriu meu peito</em><br /><em>E arrancou-me o coração fremente,</em><br /><em>E no vazio do meu peito colocou</em><br /><em>Um pedaço de carvão em chamas.</em><br /><em>Fiquei como um cadáver, deitado no deserto,</em><br /><em>E ouvi a voz de Deus clamar:</em><br /><em>"Levanta, profeta, e vê e ouve,</em><br /><em>Sê portador da minha vontade - </em><br /><em>Atravessa terras e mares</em><br /><em>E incendeia o coração dos homens com o verbo</em>".<br /><br />(<strong>ANDREI TARKOVSKI, <em>Esculpir o Tempo</em>, pgs. 265-266</strong>)mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1152482888653831832006-07-09T15:07:00.000-07:002006-07-09T15:08:09.003-07:00<strong>I Sit By The Window</strong><br /><br /><strong><em>Joseph Brodsky</em></strong><br /><br />I said fate plays a game without a score,<br />and who needs fish if you've got caviar?<br />The triumph of the Gothic style would come to pass<br />and turn you on--no need for coke, or grass.<br />I sit by the window. Outside, an aspen.<br />When I loved, I loved deeply. It wasn't often.<br /><br />I said the forest's only part of a tree.<br />Who needs the whole girl if you've got her knee?<br />Sick of the dust raised by the modern era,<br />the Russian eye would rest on an Estonian spire.<br />I sit by the window. The dishes are done.<br />I was happy here. But I won't be again.<br /><br />I wrote: The bulb looks at the flower in fear,<br />and love, as an act, lacks a verb; the zer-<br />o Euclid thought the vanishing point became<br />wasn't math--it was the nothingness of Time.<br />I sit by the window. And while I sit<br />my youth comes back. Sometimes I'd smile. Or spit.<br /><br />I said that the leaf may destory the bud;<br />what's fertile falls in fallow soil--a dud;<br />that on the flat field, the unshadowed plain<br />nature spills the seeds of trees in vain.<br />I sit by the window. Hands lock my knees.<br />My heavy shadow's my squat company.<br /><br />My song was out of tune, my voice was cracked,<br />but at least no chorus can ever sing it back.<br />That talk like this reaps no reward bewilders<br />no one--no one's legs rest on my sholders.<br />I sit by the window in the dark. Like an express,<br />the waves behind the wavelike curtain crash.<br /><br />A loyal subject of these second-rate years,<br />I proudly admit that my finest ideas<br />are second-rate, and may the future take them<br />as trophies of my struggle against suffocation.<br />I sit in the dark. And it would be hard to figure out<br />which is worse; the dark inside, or the darkness out.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1152358280825701802006-07-08T04:29:00.000-07:002006-07-08T04:31:20.886-07:00<strong>A IMITAÇÃO DO AMANHECER</strong><br /><br /><br />Toda a obra de Bruno Tolentino é uma busca pelo ponto de equilíbrio, o ponto em que o instante e o movimento se tocam, mas nunca se encontram definitivamente. “A Imitação do Amanhecer” não é exceção. Se nos livros anteriores Tolentino mostrava todos os lados desta busca, agora temos em mãos a dramatização da impossibilidade deste equilíbrio e sua impertinente recusa, já diagnosticada em “O mundo como Idéia” (2002). Quatro anos depois, o poeta retorna com uma história, meditada durante duas décadas, sobre as cidades cicatrizadas na alma, representadas numa Alexandria que assombra a memória de um narrador incapaz de se libertar do seu passado e aceitar um amanhecer tecido por epifanias.<br /><br />A epifania é o eixo temático para compreender a experiência radical da leitura de “A Imitação do Amanhecer”. Composta por 538 sonetos alexandrinos, esta odisséia de instantes apenas vislumbrados provoca a sensação de que há algo além do cosmos quase caótico onde vivemos. Eles são apreendidos numa velocidade alucinante pela melodia dos versos; o pensamento é modelado em uma lírica que se movimenta em giros sinfônicos dignos de Sibelius; e o rigor da linguagem é um artifício para intensificar a plasticidade das imagens, permitindo ao leitor que tenha acesso à mesma luz da qual o cervo da Lapônia (emblema de um momento capital do livro) se despede com altivez assustadora.<br /><br />Isso não significa que se apresenta um alívio para a precariedade humana. Pelo contrário: Tolentino perturba ainda mais ao refletir sobre a incompetência da criatura em respeitar as epifanias. As conseqüências disso são perturbadoras e, entre elas, o infecundo e o estéril são somente algumas das alternativas. Mas deve-se desistir? Eis a grandeza da poesia de Tolentino: o triunfo, se há algum, está na tentativa - e as epifanias, os instantes que devemos tratar com carinho, são as ruínas onde se abriga a alegria dos náufragos. Aceitar este fato não se trata de um problema moral; é principalmente uma questão de sobrevivência.<br /><br />O poeta faz o seu personagem caminhar por uma Alexandria real e mítica, irmã do iceberg imaginário que seduz a civilização ocidental até hoje. Ela abriga as ruas da desolação e as vielas do desejo que, por não compreenderem as exigências de uma epifania, nos transforma em moscas na redoma – e onde, apesar do aviso de Tolentino, queremos continuar presos. Impotentes entre o êxtase dos versos e a quietude do fim, tudo depende de como entendemos o silêncio que nos envolve, como bem disse Lawrence Durrell, outro amante da cidade-peste que une o Ocidente e o Oriente. Substituir a imitação que se debate contra o instantâneo do real pelo verdadeiro amanhecer – este é o dever de quem atravessar as páginas deste livro ímpar na poesia brasileira.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1144403467185097632006-04-07T02:43:00.000-07:002006-04-07T02:51:07.196-07:00<strong>EVERYTHING THAT RISES MUST CONVERGE</strong><br /><strong></strong><br />É a hora do recolhimento, de preservar o fio de bons momentos. Não se deve deixar o ódio ou o ressentimento voltarem - pelo simples motivo de que ninguém suporta um retorno deles pois isso destruiria a própria vida. É a hora do recolhimento porque chegará a hora em que tudo o que sobe converge - converge para a indesejada, para o verme na maçã, para a falha do sistema. Enfim, para a morte. Você ainda se lembra dela? Lembra-se do bafo frio nas suas costas? Lembra-se do momento em que foi-lhe pedida uma despedida e você recusou? Dentro em breve, você não terá tempo de recusar. É a hora do recolhimento, do silêncio. A hora em que o desprendimento é necessário para um novo retorno, um novo amadurecimento. Passa-se pela terra das sombras para, algum dia, ver a luz. Mas até lá única verdade que resta é esta: "<em>All souls are one e all soul is alone</em>".mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1122775997799375592005-07-30T19:11:00.000-07:002005-07-30T19:13:17.806-07:00<strong>YOU MUST TAKE YOUR PART, OLD SPORT</strong><br /><br />Afundado na noite. Como alguém que às vezes baixa a cabeça para meditar, totalmente afundado na noite. Em torno as pessoas dormem. Uma pequena encenação, um inocente auto-engano de que dormem em casas, em camas firmes, sob o teto sólido, estirados ou encolhidos sobre colchões, em lençóis, sob cobertas, na realidade reuniram-se como outrora e mais tarde, em região deserta, um acampamento ao ar livre, um número incalculável de pessoas, um exército, um povo, sob o céu frio, na terra fria, estendidos onde antes estavam em pé, a testa premida sobre o braço, o rosto voltado para o chão, respirando tranqüilamente. E você vigia, é um dos vigias, descobre o mais próximo pela agitação da madeira em brasa no monte de galhos secos ao seu lado. Por que você vigia? Alguém precisa vigiar, é o que dizem. Alguém precisa estar aí.<br /><br /><em>À Noite - Franz Kafka, in</em>: <strong>Narrativas do Espólio</strong>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1119486607966572812005-06-22T17:17:00.000-07:002005-06-22T17:30:07.973-07:00<strong>BACK ON THE CHAIN GANG?</strong><br /><strong></strong><br />É isso aí, pessoal, preparem-se. É capaz que este escriba que vos fale volte a atacar. Não se sabe quando, não se sabe como, mas ele sente, como poucas vezes sentiu na vida, que a locomotiva recomeça a andar, a recuperar seu fôlego. Obviamente, tudo será dessa vez um pouco mais depurado; é o que ocorre quando se persevera na ilha da penitência.<br /><br />Os últimos dois anos foram fundamentais para controlar o que se chama a <em>ânsia</em> de escrever - aquela coceirinha que dá, que você acredita que só pode fazer e ninguém mais. Ledo engano. Escrever não é egocêntrismo; é justamente reconhecer que você não passa de um <em>freak</em>, de um perdedor que deve-se aperfeiçoar na arte da perda. <em>Fail better</em>, já dizia Samuel Beckett. Passei esses anos refinando o meu meio de expressão, sempre tentando a expressar não só algo único, mas também concreto, que pudesse ser externo à minha pessoa. Para isso, atravessei uma das maiores crises que já tive na minha vida, um <em>crack-up</em> de dar inveja a qualquer F. Scott Fitzgerald.<br /><br />E a culpa disso é exclusivamente minha - assim como atribuo a minha inacreditável recuperação ao Espírito Santo, aquele amigão que sempre te salva dos maiores apuros. Ainda não sei se devo voltar <em>mesmo</em>. Uma parte de minha hesita; a outra se prepara para um ataque feroz. Devo encontrar um meio-termo, um equilíbrio que me permita a perfeita coincidência entre o que vi e o que quero expressar. Porque, quando se tem um dom, deve-se aperfeiçoá-lo o máximo possível e tratá-lo com a máxima cautela, para que, em vez de viver <em>do</em> silêncio, não vivamos <em>no</em> silêncio.mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1089596365890590302004-07-11T18:29:00.000-07:002004-07-11T18:40:49.086-07:00<strong>NO CASCADE OF LIGHT</strong>
<br />
<br />
<br />O endereço deste blog - "<em>Compose in Darkness</em>" - retrata bem o estado atual deste que vos escreve. O negócio é refrear os impulsos da alma e compor, bem quietinho, na escuridão o que (provavelmente) nunca e ninguém terá coragem de expor à luz. Mas a cruz é pesada, ninguém pode duvidar. Como manter a sanidade em um país onde cada partícula de esperança torna-se um caso clínico de Nada Cumpre Aquilo Que Promete? É deveras difícil, deveras. A solução? Apelar para uma solidão mórbida? Entrar para a turma do oba-oba e fazer parte da muralha que abomina os enigmas? <em>No way, pal</em>. Há de se encontrar um equilíbrio, um ponto de contato entre o que nos coloca em movimento e o que nos faz repousar na profunda paz do Espírito. Mas como? <em>Como</em>? Colocando o silêncio, o exílio e a astúcia ao seu dispor ou manobrando-os, como uma amante manhosa e que gosta de apanhar? Ou será que modelar a alma na escuridão desta incerteza tripla chamada Fé significa em se abandonar a algo mais (e suspire várias vezes por esse <em>mais</em>)e deixar as coisas tomarem seu rumo, não importa qual? Por enquanto, apenas fico com a frase do Santo:
<br />
<br />"<em>Pois é quando sou fraco é que sou forte</em>".mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1089344508919818272004-07-08T20:32:00.000-07:002004-07-08T20:41:48.920-07:00<strong>A MODEST PROPOSAL</strong>
<br />
<br /><strong>Ted Hughes</strong>
<br />
<br /><em>There is no better way to know us
<br />Than as two wolves, come separately to a wood.
<br />Now neither´s able to sleep - even at a distance
<br />Distracted by the soft competing pulse
<br />Of the other; nor able to hunt - at every step
<br />Looking backwards and sideways, warying to listen
<br />For the other´s slavering rush. Neither can make die
<br />The painful burning of the coal in its heart
<br />Till the other´s body and the whole wood is its own.
<br />Then it might sob contentment toward the moon.
<br />
<br />Each in a thicket, rage hoarse in its labouring
<br />Chest after a skirmish, licks the rents in its hide,
<br />Eyes brighter than is natural under the leaves
<br />(Where the wren, peeping around the leaf, shrieks out
<br />To see a chink so terrifyingly open
<br />Onto the red smelting of hatred)as each
<br />Pictures a mad final satisfaction.
<br />
<br />Suddenly they duck and peer.
<br /> And there rides by
<br />The great lord from hunting. His emboidered
<br />Cloak floats, the tail of his horse pours,
<br />And at his stirrup the two great-eyed greyhounds
<br />That day after day bring down the towering stag
<br />Leap like one, making delighted sounds.</em>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-7556714.post-1089343954302485292004-07-08T20:23:00.000-07:002004-07-08T20:32:34.303-07:00<strong>THE HAWK IN THE RAIN</strong>
<br />
<br /><strong>Ted Hughes</strong>
<br />
<br /><em>I drown in the drumming ploughland, I drag up
<br />Heel after heel from the swallowing of the earth´s mouth,
<br />From clay that clutches mey each step to the ankle
<br />With the habit of the dogged grave, but the hawk
<br />
<br />Effortlessly at height hangs its still eye.
<br />His wings hold all creation in a weighless quiet,
<br />Steady as a hallucination in the streaming air.
<br />While banging wind kills these stubborn hedges,
<br />
<br />Thumbs my eyes, throws my breath, tackles my heart.
<br />And rain hacks my head to the bone, the hawk hangs
<br />The diamond point of will that polestars
<br />The sea drowner´s endurance: and I,
<br />
<br />Bloodily grabbed dazed last-moment-counting
<br />Morsel in the earth´s mouth, strain towards the master-
<br />Fulcrum of violence where the hawk hangs still.
<br />That maybe in his own time meets the weather
<br />
<br />Coming the wrong way, suffers the air, hurled upside down,
<br />Fall from his eye, the ponderous shires crash on him,
<br />The horizon trap him; the round angelic eye
<br />Smashed, mix his heart´s blood with the mire of the land.</em>mvchttp://www.blogger.com/profile/13322734151220232530noreply@blogger.com11